“Vai gritar Lula lá na África”: MP, Defensoria e OAB querem a investigação da prisão de jovem negro

Jovem preso por suposto crime de boca de urna ouve que 'vai gritar Lula na África' em Novo Gama, Goiás — Foto: Reprodução/Redes Sociais
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O Ministério Público, a Defensoria Pública e a Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás cobram a investigação de caso ocorrido em Novo Gama e registrado em vídeo, que mostra uma abordagem da Polícia Militar e da Guarda Civil Municipal a um jovem negro e no qual é possível ouvir alguém dizer “vai gritar Lula lá na África”.

O MP-GO avisa que registrou, de ofício (sem provocação por meio de denúncia da sociedade), notícia de fato para investigar a situação. Foram expedidos nessa quinta-feira (6/10) ofícios às duas corporações, solicitando esclarecimentos sobre o conteúdo do vídeo, diante da presença de integrantes na filmagem.

Já a OAB-GO divulgou em seu site na internet nota em que avisa que oficiará autoridades policiais do Estado de Goiás a fim de solicitar intimações e requerer a investigação das circunstâncias que levaram à prisão do jovem, supostamente ocorrida no último domingo (2), durante a realização do 1º turno das eleições.

“A OAB Goiás repele atentados contra o direito de igualdade racial e se posiciona veementemente contrária a qualquer ato de teor discriminatório, seja ele de raça ou por orientação política”, afirma a nota, que foi assinada pelo presidente Rafael Lara Martins; por Gustavo Nogueira Filho presidente da Comissão da Promoção da Igualdade Racial; e Larissa Junqueira dos Reis Bareato, Comissão de Direitos Humanos.

A Defensoria Pública, por sua vez, por meio do Núcleo Especializado de Direitos Humanos (NUDH), requereu à Corregedoria da Polícia Militar do Estado de Goiás e à Promotoria de Justiça da Comarca de Novo Gama a apuração do caso.

“À luz dessas informações aduzidas, atentando para a gravidade e reiterações de denúncias que narram violência policial, visando, ainda, o cumprimento das prerrogativas conferidas à Defensoria Pública para o exercício de suas funções institucionais, requisita-se a instauração de procedimento administrativo para verificação da conduta dos policiais envolvidos ou acompanhamento de procedimento já instaurado”, pontuou o coordenador do NUDH/DPE-GO, defensor público Marco Túlio Félix Rosa, às autoridades competentes.

Investigação

Em nota, a Polícia Militar disse que, assim que ficou sabendo, determinou a abertura de um procedimento administrativo para apurar a circunstância do caso e afastou um dos policiais militares envolvidos das suas atividades operacionais até o final das apurações. A PM ainda disse que “não compactua com nenhum tipo de conduta contrária aos preceitos das leis”.

O caso

O jovem explicou que mora a cerca de 200 metros de um local de votação e que, após acordar, foi fazer um churrasco com amigos no quintal de casa. Como é apoiador do Lula, ele disse que, durante a confraternização, falou abertamente sobre querer a vitória do candidato. Após isso, em determinado momento, ele disse que a polícia entrou no terreno dele sem justificativa e o prendeu.

A cena foi gravada e divulgada nas redes sociais. No vídeo, o homem aparece sem camisa e sendo algemado. Durante a abordagem, é possível ouvir a frase “vai gritar Lula lá na África agora”. Na sequência, um outro homem diz que o jovem estaria sendo preso por ser eleitor do Lula.